CENTELHAS EUCARÍSTICAS
XXIII
Esperando a graça
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DERRAMEI todo o meu coração perante ti, ó Jesus! Chorei a minha dor, cantei as minhas esperanças, desafoguei todo o meu amor; pedi-te, exorei-te... Agora sinto-me extenuada... Mas, não saio daqui, sem me fazeres a graça implorada.
Orei com toda a confiança nos méritos da tua Paixão e Morte; apresentei à tua misericórdia as tuas próprias dores; recordei-te o teubatei, procurai, pedi... Mas até agora não obtive coisa alguma... Contudo, não me quero ir embora, e fico aqui esperando a graça.
Para valorizar a minha oração e as minhas esperanças recomendei-me a certas almas que te são muito caras, pedi-lhes que intercedessem por mim; e parece-me que essas almas, estando mais familiarizadas com o teu Coração, mais tarde ou mais cedo deverão ser ouvidas. E há já tanto tempo que elas oram, mas a graça não se mostra ainda... E eu aqui estou esperando.
É possível que somente eu esteja excluída do banquete dos teus favores? Muitos que oraram menos que eu e talvez com esperança menos que a minha, foram ouvidos, e muitas vezes os ouvi contar a história das dores passadas e das consolações presentes... E eu terei de estar aqui com as mãos sempre vazias! Ó meu bom Jesus, e até quando?
Às vezes o coração dá-me um salto, e parece dizer-me: alegra-te! A graça está feita! Então eu mando um suspiro de alegria, sorrio, abro aboca para dizer um obrigada... Mas o agradecimento fica sufocado por um gemido... Pobre de mim! Era uma ilusão!
O descontentamento sugere-me pôr de parte a oração; e como é tremenda esta tentação!... Então procuro dentro do coração e nos mais íntimos recônditos da alma alguma invocação... Alguma jaculatória... Um grito... Alguma coisa que saiba a oração, e depois torno a falar-te, ó Jesus... Mas quem fala são os olhos com as últimas lágrimas, é o coração escalando os suspiros mais arrastados... E depois torno a calar-me, triste... Esperando... Sempre esperando...
Recorro a Maria, recorro aos meus santos padroeiros, recorro às almas do Purgatório e a outras almas que creio estarem já no Paraíso, conto-lhes aquilo que sofro, aquilo que espero... Mas, depois, pensando que o primeiro e o mais poderoso medianeiro junto de Deus és tu mesmo, concentro toda a minha alma na tua Hóstia, ó Jesus, como que para lutar coração a coração contigo, e constranger-te a ouvir-me... E, depois, quando não posso mais, faço silêncio, inclino a fronte, deixo cair os braços, e espero...
Mas por que preço me concederás esta graça, ó Jesus? Di-me-lo; que condições exiges para ouvir-me? Queres de mim mortificações? Fá-las-ei! Queres que eu seja um pouco mais paciente? Sê-lo-ei! Queres que eu seja boa e caritativa com aquela pessoa antipática? Farei o possível por sê-lo! Queres de mim um certo sacrifício... Aquele sacrifício que me custa tanto? Pois bem, com o teu auxílio, farei esse sacrifício! Mas, meu caro Jesus, bem vês que eu não sou boa para nada! E quererás ouvir-me por um preço superior às minhas forças? Basta: eu não sei o que exiges para ouvir-me; sei somente isto: que tu podes tudo, que eu preciso de tudo, e... Estou aqui esperando.
Mas é possível que o Tabernáculo, que foi sempre o refúgio das minhas dores e o santuário das minhas esperanças, se torne agora o albergue dos meus desenganos? É possível que quando vir um povo devoto inclinar-se diante da Hóstia, adorá-la, escorá-la, render-lhe graças, eu me veja constrangida a dizer que para os outros há sempre alguma graça, e para mim não há nada? Que quando fizer a comunhão a tristeza me constrinja a dizer que já não sei que pedir ao meu Jesus, porque me diz sempre que não? Ó Jesus, vê para onde me leva a minha pobre cabeça! Quase, quase, em vez de orar, dizia blasfêmias...
Jesus! Jesus! Não vês que eu estou aqui? Não vês quanto eu sofro? Não vês que me obstino em receber aquela graça? Não vês que esgotei todas as forças em orar e esperar? Ó Jesus, eu não saio daqui enquanto não for ouvida... Aquilo que podia fazer, já o fiz... Outra coisa não sei fazer, senão esperar.,. Ó Jesus! Agora é contigo.