quinta-feira, 10 de setembro de 2020

JESUS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO DÁ AUDIÊNCIA A TODOS E A QUALQUER HORA



Ad vocem clamoris tui, statim ut audierit, respondebit tibi — “Logo que ouvir a voz do teu clamor, te responderá” (Is 30, 19).

Sumário. Os reis da terra não dão sempre audiência e muitas vezes acontece que o que lhes deseja falar é despedido pelos guardas a pretexto de que não é tempo de audiência e deve vir mais tarde. Jesus, porém, no Santíssimo Sacramento, não faz assim; dá audiência a todos e a toda hora. É por isso que as igrejas estão sempre abertas. Porque então é que nós, que temos a sorte feliz de morar no palácio do Senhor, não aproveitamos melhor a sua condescendência para lhe expor as nossas necessidade e pedir graças?

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Falando do nascimento do Redentor no presépio de Belém, São Pedro Crisólogo diz que os reis da terra não dão sempre audiência, e que, quando alguém lhes deseja falar, muitas vezes acontece que os guardas o despedem a pretexto de que não é tempo de audiência e deve vir mais tarde. O divino Redentor, pelo contrário, quis nascer numa gruta aberta, sem portas nem guardas, para dar audiência a todo o mundo e a toda a hora: Non est satelles qui dicat: Non est hora — “Não  há guarda para dizer que não é a hora”. Isto mesmo faz Jesus no Santíssimo Sacramento. As Igrejas estão continuamente abertas; cada um pode, quando lhe aprouver, ir entreter-se com o Rei do céu.

E lá, Jesus quer que lhe falemos com toda a confiança: por esta razão é que ele se conserva sob as espécies de pão. Se o Senhor aparecesse sobre os altares num trono de luz, como aparecerá no juízo final, quem se atreveria a se aproximar d’Ele? Mas, reflete Santa Teresa, como Ele deseja que lhe falemos e peçamos suas graças cheios de confiança e sem temor, velou sua majestade sob as espécies de pão. Ele deseja, diz também Tomás de Kempis, que falemos a Ele como um amigo fala a seu amigo. Por isso, acrescenta o cardeal Hugo, nos sagrados Cânticos Jesus se chama a si próprio flor dos campos e açucena dos vales: Ego flos campi et lilium convallium (1). As flores dos jardins são encerradas e reservadas; mas as flores dos campos estão à disposição de todos.

Qual não seria a tua alegria, meu irmão, se o rei te chamasse ao seu gabinete e te falasse: Dize-me, que desejas? De que precisas? Amo-te e desejo fazer-te bem. Pois é isto o que Jesus Cristo, o Rei do céu, diz a qualquer que O visita: Venite ad me omnes qui laboratis et onerati estis, et ego reficiam vos (2) — “Vinde a mim, vós todos que sois pobres, enfermos, aflitos: eu posso e quero enriquecer-vos, curar-vos e consolar-vos; é para isto que me conservo sobre os altares”.

Procura ir muitas vezes à audiência junto ao Rei do céu, e, se ainda não o tens, toma o belo hábito de assistir todas as manhãs à santa missa, durante a qual Jesus sacramentado dispensa as suas misericórdias mais profusamente. Não te detenham mais de render esta homenagem a Jesus Cristo, nem os negócios terrestres, nem o respeito humano. Thomas Morus, no meio dos seus múltiplos afazeres como Chanceler da Inglaterra, achava ainda todos os dias o tempo para assistir à missa, nem julgava indecoroso à sua dignidade o servir ele mesmo ao celebrante. Certo dia, enquanto praticava a sua bela devoção, avisaram-no que o rei o estava esperando. Thomas respondeu: “Tenha um pouco de paciência, primeiro devo tributar minha homenagem a um Soberano de mais alta hierarquia e assistir até ao fim à audiência do Rei do céu”.

Amadíssimo Jesus meu, já que residis sobre os altares, para escutar as orações dos infelizes que a Vós recorrem, prestai hoje ouvido à que Vos dirige este pobre pecador. Ó Cordeiro de Deus, imolado e morto na cruz, eu sou uma alma resgatada a preço do vosso sangue; perdoai-me todas as injúrias que vos fiz, e assisti-me com a vossa graça, afim de que Vos não perca mais. Jesus meu, dai-me parte na dor que tivestes dos meus pecados no horto do Getsêmani. Ó meu Deus, quanto quisera nunca Vos ter ofendido!

Dulcíssimo Jesus meu, se eu morresse em pecado, privado ficaria de Vos amar para sempre; Vós, porém, me haveis esperado para que vos ame. Graças Vos dou pelo tempo que me concedeis, e já que Vos posso amar, quero amar-Vos. Dai-me a graça do vosso santo amor, mas um amor tão forte que me faça esquecer tudo, para só pensar em satisfazer ao vosso amantíssimo Coração. — Ah, meu Jesus, toda a vossa vida consumistes por mim; consuma eu também por Vós o que me resta da minha. Atraí-me todo ao vosso amor; fazei-me todo vosso antes da minha morte. Espero esta graça pelos merecimentos da vossa Paixão. Confio também em vossa intercessão, ó Maria; sabeis que Vos amo; tende compaixão de mim. (*II 167.)

Cant. 2, 1.
Matth. 11, 28.

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III – Santo Afonso

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

OS ADORADORES DE JESUS SACRAMENTADO


Gustate et videte, quoniam suavis est Dominus – “Provai e vede quão suave é o Senhor”(Ps. 33, 9).

Sumário. Entre todas as devoções, a devoção de Jesus sacramentado é, sem dúvida, depois da recepção dos sacramentos, a primeira, a mais agradável a Deus e a mais proveitosa para nós. Por isso é que todos os santos ardiam de amor a esta dulcíssima devoção. Não te pese, pois, meu irmão, abraçá-la também, e abreviando tuas conversações com os homens, vai freqüentemente entreter-te com Jesus e comunicar-lhe as tuas necessidades. Ganharás talvez mais, num quarto de hora de oração diante do Santíssimo Sacramento, que em todos os mais exercícios devotos do dia.

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A fé ensina, e nós somos obrigados a crer, que na Hóstia consagrada está realmente Jesus Cristo, sob as espécies de pão. Mas devemos ao mesmo tempo estar persuadidos que Ele reside em nossos altares, como sobre um trono de amor e misericórdia, para dispensar as suas graças e mostrar-nos o amor que nos consagra. Quanto são, portanto, agradáveis ao Coração de Jesus os que o visitam freqüentemente e se comprazem em fazer-Lhe companhia nas igrejas! Jesus Cristo ordenou a Santa Maria Madalena de Pazzi que o visitasse trinta e três vezes por dia. E esta esposa tão amada obedecia-Lhe fielmente, aproximando-se do altar o mais que podia.

Deixemos falar as almas devotas, que vão freqüentes vezes entreter-se como o diviníssimo Sacramento e digam-nos os favores, as luzes, as chamas de amor que ali recebem e o paraíso de que gozam em presença do Deus eucarístico. O servo de Deus, Padre Luiz la Nuza, famoso missionário, desde jovem e secular, amava tão ardentemente Jesus Cristo, que parecia não poder afastar-se da presença de seu amado Senhor. Sentia ali tantos encantos que, tendo-lhe seu diretor proibido que ali passasse mais de uma hora, a violência que se devia fazer para obedecer e desprender-se de Jesus Cristo era tal, que parecia uma criança arrancada ao seio materno.

São Luiz de Gonzaga tinha também recebido proibição de ficar diante do Santíssimo Sacramento; e, passando junto do tabernáculo e sentindo-se atraído a ficar, pelos suaves encantos de seu Senhor, violentava-se para se retirar e na ternura do seu amor exclamava: Recede a me, Domine, recede – “Afastai-Vos de mim, Senhor, afastai-Vos”. Era ali ainda que São Francisco Xavier encontrava o repouso após as grandes fadigas nas Índias: consagrava o dia ao bem das almas e a noite passava-a em oração perante o Santíssimo Sacramento. São Francisco de Assis, apenas sentia qualquer aflição, ia imediatamente comunicá-la a Jesus na santa Eucaristia. – Numa palavra, lê as vidas dos santos e verás que todos eram cheios de ardor por esta tão doce devoção, convencidos de que não é possível encontrar na terra tesouro mais amável do que Jesus na Eucaristia.

É incontestável que, entre todas devoções, a adoração de Jesus sacramentado é, depois da frequência dos sacramentos, a primeira, a mais agradável a Deus e a mais proveitosa para nós. Empenha-te, pois, alma piedosa, em abraçá-la, e desprendendo-te da conversação com os homens, vai passar doravante, todos os dias algum tempo, meia hora ou um quarto de hora pelo menos, em qualquer igreja na presença do Santíssimo Sacramento.

Saboreia e vê quão suave é o Senhor. Experimenta e verás o proveito que te resultará desta prática. Sabe que o tempo que passares diante do Santíssimo Sacramento será o que te alcançará mais vantagens durante a vida e mais consolações à hora da morte e na eternidade. Sabe ainda que ganharás talvez mais em um quarto de hora de oração perante a santa Eucaristia, do que em todos os outros exercícios do dia. – Onde é que as almas santas têm formado as suas mais generosas resoluções senão aos pés dos altares? Quem sabe se tu mesmo, um dia, perante o tabernáculo, não tomarás a resolução de te entregares inteiramente a Deus?

Ó majestade e bondade infinita! Vós tanto amais os homens e tendes feito tanto para que os homens Vos amem; como é então que entre os homens se encontrem tão poucos que Vos amam? Não quero mais ser do número daqueles ingratos, como tenho sido no passado. Resolvido estou a amar-Vos quanto possa, a não amar senão a Vós e a Vos provar o meu amor com as minhas freqüentes visitas ao vosso Santíssimo Sacramento. Vós o mereceis e m’o recomendais com tão grande insistência! Quero contentar-Vos. Fazei, ó Senhor, que Vos contente plenamente; é o que Vos peço pelos merecimentos da vossa Paixão. Amo-Vos, meu Jesus, amo-Vos, bondade infinita. Sois Vós toda a minha riqueza, toda a minha delícia, todo o meu amor. – Ó Mãe do belo amor, Maria, ajudai-me a amar sempre e com todas as minhas forças o vosso Filho, e a fazê-Lo amado também pelos outros. (*I 367.)

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III – Santo Afonso

Jesus eu Vos amo em todos os Sacrários da terra, vinde ao meu coração, vinde vivei em mim e transformai-me!