CENTELHAS EUCARÍSTICAS
PEQUENA COLEÇÃO
DE
Pensamentos e afetos devotos
a
JESUS SACRAMENTADO
Continuação do Capítulo
XXXIX
XXXIX
A minha cruz
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Fragmentos
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É inexplicável o temor que certas pessoas têm de apavorarem os seus doentes propondo-lhes que recebam a Jesus como Viático. E são cristãos praticantes, que frequentam os sacramentos e fazem amiúde a Sagrada Comunhão... É possível que Jesus, quando se aproxima dum enfermo para acompanhá-lo à eternidade, antes de tudo lhe perturbe o espírito com ameaças e pavores? Mas, em que parte do Evangelho se lê que Ele tenha apavorado uma só vez que seja algum infeliz, antes de curá-lo? Não é antes verdade que os tenha sempre confortado a todos? E haverá agora quem pense que Jesus trate doutra maneira os doentes necessitados do seu auxílio!... Deixai livre o passo a Jesus que procura as almas, e deixai livres as almas que sentem necessidade de Jesus! O encontro deles é uma festa, e quem o impede comete um delito.
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Ainda que não se estabeleça a prática duma virtude determinada, por exemplo, da mansidão, a pouco e pouco se se torna manso, frequentando a Eucaristia, ou com a Comunhão ou com a Visita; porque Jesus, à medida que se avizinha e toma posse de uma alma, comunica-lhe qualquer coisa da própria índole. É um fato que as almas eucarísticas, não procurando senão a Jesus Sacramentado, quase sem darem por isso, tornam-se humildes e mansas à semelhança d'Ele; porque unindo-se à causa de toda a virtude, participam de todos os seus efeitos, mesmo sem os procurarem.
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Como explicar o fato de certas pessoas as quais, depois da primeira Comunhão, não tinham posto mais os pés na igreja e, chegados à velhice, voltam a frequentá-la sem grande dificuldade, ouvindo com gosto a palavra de Deus, admirando a majestade dos sagrados ritos, e tudo aquilo que a Religião oferece aos seus filhos? A razão está nisto; que o coração humano, uma vez subtraído às paixões que encadeiam de preferência a juventude e a virilidade, vendo-se livre, orienta-se naturalmente pela Eucaristia e volta lá onde recebeu as primeiras, as mais profundas, as mais inolvidáveis doçuras que ainda saboreou em toda a sua vida. Abandonar para sempre Jesus Cristo, depois de tê-lo conhecido, é uma violência demasiado forte à alma humana, e bem poucos têm a triste coragem de suportá-la.
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O sol é sempre belo, tanto de manhã quando doura o oriente, como à tarde quando purpureia o ocidente. Assim Jesus tem sempre os esplendores dum sol de graça e de amor, tanto quando impera sobre uma alma inocente no alvorecer da vida, como quando domina sobre uma alma arrependida no declinar da existência. Os sorrisos da inocência e as lágrimas do arrependimento, quando iluminados pelo Sol eucarístico, têm os esplendores e os revérberos dignos do Paraíso. Não foi sem motivo que Jesus demonstrou tanta predileção pelas crianças e pelos penitentes.
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Nas horas solitárias e tristes mais de uma vez nos foge dos lábios uma aspiração, um gemido, um grito expresso com este simples nome: Jesus! Parece que este nome se perca ou seja inteiramente absorvido pelo ar ambiente e que não seja ouvido por ninguém. Mas aquele grito não se perde; Jesus ouve-o do Tabernáculo e não tarda a responder: que queres de mim? Quem possui, porém, tanta fé e presta tanta atenção que dê uma resposta condigna a esta pergunta?... Como seria belo que Jesus, por sua vez, ouvisse responder: Desejaria amar-te! Então começaria um diálogo que acabaria em um incêndio de amor.
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O espinho que talvez punge mais agudamente o coração quando se sofre e se chora, é o pensarmos que os outros sejam insensíveis à narração das nossas dores, que as ouçam só por cortesia humana, mas não as sintam com caridade cristã. Como é penoso termos muitas vezes de manifestar ou dar apenas a entender as nossas angústias a gente sem coração! Onde, porém, estamos certos, infalivelmente certos de ser ouvidos, compreendidos e compadecidos com amor, é junto do Tabernáculo. O Coração de Jesus é o coração de um homem que sofreu martírios inenarráveis, mas é também o coração de um Deus que ama os desventurados com um amor infinito... Sermos compreendidos e sermos amados: que há de melhor para um coração que sofre?
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Certos corações privilegiados da graça não têm senão uma esperança: a de amarem a Jesus na terra e de o gozarem para sempre no céu: o resto para eles é nada. Bela esperança! Mas quantos sopros gelados caem sobre ela para a estiolarem e fazê-la morrer! Só lhes resta um meio de se salvar: esconder-se junto do Tabernáculo de Jesus. Há ali uma certa flama contra a qual se derretem os gelos mais intensos... Quando um coração vive com Jesus Sacramentado, podeis convidá-lo a amar, a desejar qualquer coisa fora de Jesus: ele não vos compreenderá. E quando uma tentação não consegue fazer-se compreender, é já vencida.
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É sobretudo nos dias da desventura que se conhece quanto seja precioso o bálsamo de uma amizade sincera. Certas almas que nos dias de prosperidade esquecem a Jesus para gozarem as delícias da vida, sem o temor de serem perturbadas por um remorso, quando são feridas por um desengano ou por uma desgraça, já não sentem dificuldade em confidenciarem algum tempo com Jesus no Sacramento: parece que a sua índole se tenha transformado. E, afinal, de transformação não há absolutamente nada: é unicamente o instinto eucarístico que se desperta nessas almas oprimidas pela restrição da dor, impelindo-as para o Tabernáculo, onde pouco a pouco encontram um conforto que antes nem sequer sonhavam poder encontrar-se sobre a terra. Talvez um pouco antes dissessem que tinham perdido a fé: mas não a tinham perdido, estava sepultada debaixo dum cúmulo de prazeres mundanos, desaparecidos os quais, a fé, sem a fadiga de muitas indagações e discussões difíceis, se manifestou em toda a sua beleza e suavemente as reconduziu a Jesus Sacramentado.
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