Mês de Maria não é uma devoção difícil e penosa; pelo contrário pode dizer-se, que entre as práticas de devoção, consagradas a honrar a Santíssima Virgem, talvez não haja outra mais fácil, mais suave, e até mesmo mais agradável, pela escolha e variedade dos exercícios, que a compõem, e que vamos explicar miudamente.
I. Prepara-se antecipadamente no sitio da casa mais acomodado para o recolhimento, uma espécie de altarzinho, no qual se coloca respeitosamente a imagem da Santíssima Virgem, enfeitada com asseio e com gosto. Em volta da sagrada imagem devem dispôr-se na ordem conveniente luzes e vasos de flores, próprias da estação, que se renovarão com cuidado de tempo em tempo no decurso do mês. É incrível quanto este aparato exterior é próprio para inspirar sentimentos de devoção, e sustentar o fervor durante o tempo d’estes santos exercícios. Em França costumara em muitas casas erigir este oratoriozinho na sala do trabalho, ou do estudo, e ainda mesmo na casa de recreação. É um meio excelente de santificar estes lugares, e de fazer que cada um pratique todas as suas ações com mais regularidade, como quem se acha sempre, por assim dizer, na presença de Maria. Nisto pode cada um seguir o que lhe ditar sua devoção, parece contudo, que, podendo ser comodamente, a Igreja ser o lugar mais conveniente para eses santos exercícios; e que eles se farão sempre com mais fervor junto do altar da Mãe de Deus, na casa consagrada à oração.
II. Na véspera do primeiro dia de Maio se reunião no lugar indicado todas as pessoas, que se propõe fazer juntas o Mês de Maria. Começarão por uma invocação ao Espírito Santo. Depois a pessoa, que preside, lê a Instrução sobre as origens e prática do Mês de Maria, a qual acrescenta as explicações necessárias para fazer conhecer a todos os assistentes o fim e espírito desta santa prática, e a maneira de a cumprirem com fructo.
III. Poder-se-ão, segundo o uso edificativo de muitas confrarias e associações devotas, distribuir à sorte bilhetes, em que estejam escritos alguns atos de virtudes, para exercitar neste mês em honra da Santíssima Virgem. Nas reuniões pouco numerosas o próprio presidente pode fazer tirar estes bilhetes a todas as pessoas; as que forem mais consideráveis, poderão dividir-se em diversas seções, para fazer esta distribuição, e se animarem mutuamente ao fervor. Cada um deve guardar o bilhete, que lhe couber por sorte, e excitar-se todos os dias na virtude, que ele lhe indicar. Ordinariamente o mesmo bilhete serve para todo o mês; porém atendendo a inconstância natural do coração humano, parece que seria mais vantajoso fazer de tempo em tempo uma nova distribuição. Para isto poder-se-ia escolher, por exemplo, o décimo e o vigésimo dia do mês, ou o Domingo mais próximo, que deste modo viriam a ser uma época de renovação geral no fervor.
IV. Depois da instrução e da distribuição dos bilhetes, faz-se a meditação preparatória, que deve servir de modelo para a que se há de fazer todos os dias. Como este é o exercício mais importante, deve pôr-se nele a maior atenção. Estando todos de joelhos em grande recolhimento, faz o presidente em voz alta os atos preparatórios para a meditação, que se acharão em seu lugar competente; lê depois a meditação vagarosamente e com gravidade, tendo cuidado de fazer alguma pausa depois de cada ponto, para que cada um possa refletir nas verdades, que são propostas, e entregar-se aos sentimentos, que elas devem despertar no coração. No fim da meditação lê se a oração, o exemplo, a prática espiritual, e a oração jaculatória, a qual todos devem tomar de cór, para a repetirem de tempo em tempo durante o dia, e termina-se com os atos para depois da oração, e uma antífona a Nossa Senhora. Poder-se-á acrescentar, se se julgar a propósito, um cântico, ou algumas orações em honra da Santíssima Virgem; mas deve haver cuidado em não as multiplicar em excesso, principalmente havendo meninos, e gente de trabalho. Seguir-se-á esta mesma ordem em todos os dias do mês de Maio exceto no que toca a leitura da instrução, e á distribuição dos bilhetes.
V. Ninguém deixará de conhecer, quanto estes santos exercícios são próprios para reanimar a piedade, e para atrair sobre aqueles, que são fieis em pratica-los a proteção especial da Mãe de Deus. Mas querendo-se tirar deles todas as vantagens espirituais, que lhes estão ligadas, cumpre acrescentar as práticas seguintes, que são tão importantes, como fáceis de guardar na memória: 1.º Unir-se cada um em intenção com todos os fieis, que trabalham em honrar a Maria com um culto especial durante este mês. 2.º Oferecer todos os dias a gloria de JESUS e de MARIA suas orações, suas obras, seus trabalhos e penitências, e as privações, que experimentar. 3.º Recorda-se muitas vezes da virtude indicada do bilhete, que lhe coube por sorte, assim como da prática espiritual assinalada no fim de cada meditação, e não deixar passar dia nenhum, sem produzir alguns atos dela, dos quais formará como um ramalhete de agradável cheiro para oferecer à Rainha dos Santos. 4.º Começar e acabar o mês recebendo os sacramentos, fazendo-o também, segundo o conselho do confessor, nos Domingo e Dias santos, com as melhores disposições que poder. 5.º Considerar todo este mês como um tempo consagrado à Mãe de Deus, e vigiar de tal modo sobre si mesmo, que não faça coisa alguma, que possa desagradar-lhe. 6.º Aplicar-se especialmente a combater a sua paixão dominante, e implorar todos os dias para este fim o socorro da Santíssima Virgem.
VI. O último dia do mês de Maio, ou o Domingo seguinte, é destinado para fazer a consagração a Maria, a qual deve coroar todos os exercícios. É conveniente que se dê a esta tocante cerimônia uma solenidade capaz de fazer viva impressão nos espíritos e nos corações; para que todos aqueles, que tiveram a ventura de santificar este mês em honra de Maria, considerando-se dali em diante como ditosos servos, e filhos queridos da Rainha do Céu, trabalhem por não degenerar de tão augusta qualidade, e procurem merecer cada vez mais seu amor e proteção por meio de uma constante fidelidade em seguir seus exemplos e imitar suas virtudes.
VII. A estas diversas práticas do Mês de Maria poder-se-ia acrescentar o Exercício de Flores espirituais, que o P. Muzzarelli aconselha como um dos mais agradáveis à Santíssima Virgem, e dos mais uteis para nós durante este mês. Este exercício, que algumas pessoas julgarão por ventura uma devoção pueril, não é outra coisa mais que o exame particular, segundo o método de S.Inácio de Loyola, e devota prática, que São Francisco de Sales recomenda na sua Introdução à vida devota com o nome de Ramalhete espiritual. Ora, quando se caminha após tais guias, não pode haver receio de cair nas ilusões a uma devoção minuciosa; pelo contrário devemos esperar, que as práticas, para as quais estes grandes homens se santificara, não nos serão menos proveitosas do que a eles, se as fizermos com aquela simplicidade fé, e terna devoção, que os animava. Eis aqui em que consiste este exercício.
(Novíssimo Mês de Maria ou Mês das flores dedicado à Santíssima Virgem, 1869. Páginas de 11 à 18)
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